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Professora Juliana Lichston |
Pesquisa feita por professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em área de Apodi, região oeste do Estado, revela que as culturas do Cártamo e da Faveleira, duas espécies de plantas adaptadas ao semiárido, têm mostrado potencial para serem matérias-primas para a produção de óleo (biodiesel).
O projeto desenvolvido visa encontrar um cultivo alternativo para a agricultura tradicional e, ao mesmo tempo, somar novas variedades de vegetais às matrizes de biocombustíveis brasileiras, com duas novidades: serem espécies apropriadas à lavra no semiárido e que não competem com a plantação de alimentos.
Juliana Espada Lichston, coordenadora do trabalho e professora do Departamento de Botânica e Zoologia da UFRN, explica que as análises avaliam, em detalhes, desde o cultivo das espécies até a capacidade das sementes em serem usadas na produção de biodiesel. As investigações levam em consideração fatores como o tempo que as plantas levam para crescer e dar frutos, as características que as tornam mais resistentes às condições extremas, os métodos ideais para armazenar as sementes e a qualidade do óleo extraído.
A pesquisa conta com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Os recursos destinados ao projeto são de aproximadamente R$ 500 mil. No estudo, desenvolvido em parceria com o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFRN), o cártamo e a faveleira são cultivados em uma área de aproximadamente um hectare, distribuídos em diferentes cenários: plantadas juntas ou separadamente, com ou sem irrigação.
Os dados coletados em campo são complementados com experimentos conduzidos em laboratórios da Universidade e comparados a relatos registrados na literatura científica especializada. Os primeiros resultados aferidos são considerados promissores pelos membros da pesquisa.
Atualmente a participação do cultivo de plantas voltadas à produção de biocombustível na economia do estado “é praticamente zero”, afirma Antônio Carlos Magalhães Alves, coordenador de Agropecuária da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Norte. Segundo o gestor, iniciativas em anos anteriores experimentaram as culturas da mamona e do girassol, mas fracassaram por fatores técnicos e econômicos.
Apesar do cenário pouco desenvolvido, Antônio Carlos acredita que há potencial para crescimento. “A demanda por oleaginosas é grande. Tanto que, hoje, a planta da Petrobras em Guamaré compra soja de outros estados para a extração de biodiesel”, relata.
João Paulo Matos Santos Lima, colaborador do projeto e professor do Departamento de Bioquímica da UFRN, explica que são verificadas sementes em fase inicial. Observam-se genes expressos que apresentem diferenças em relação às espécies atualmente exploradas comercialmente, como a soja e o milho, que possam significar maior resistência à seca, ao solo salino e à alta temperatura.
“A ideia é compreender o metabolismo”, diz João Paulo Lima. “Em etapas posteriores, bem posteriores mesmo, poderemos identificar o potencial desses genes serem inseridos em outras plantas e partir para outra estratégia, voltada à biotecnologia, como, por exemplo, produzir uma soja com melhor rendimento e menor necessidade de água. É um caminho muito longo, mas o pontapé inicial é esse que estamos dando”, comenta.
O pesquisador também avalia a longevidade das sementes em diferentes condições de armazenamento, aquelas normalmente utilizadas por pequenos agricultores. A análise verifica as consequências do envelhecimento das sementes no vigor para germinação e na quantidade de óleo disponível.
Marta Costa, professora do Instituto de Química da UFRN, participa do estudo e relaciona as caracetrísticas do plantio do cártamo e da faveleira com as características químicas do óleo extraído a partir de suas sementes. A quantidade de óleo presente nas plantas, o tempo de vida e a qualidade do combustível produzido são examinados pela cientista, que observou, no óleo retirado do cártamo, propriedades semelhantes às de outros vegetais. “O cártamo é adequado para comercialização, assim como a soja e o girassol, já consolidados no mercado para a produção de biodiesel. Ele é competitivo, com uma grande vantagem: é uma espécie que não concorre com a produção de alimentos”, revela Marta Costa.
As análises da faveleira, por sua vez, encontram-se em fase inicial, com conclusão prevista para 2015.
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